sábado, 3 de maio de 2008

Pedagogia de Bagé

Aqui, um testemunho de fé. Estou no terceiro ano de magistério e já passei por quatro escolas diferentes, todas na rede municipal. Fui transformada numa verdadeira rata do discurso pedagógico municipal, e digo sem nenhum pudor que posso, 99% das vezes, antever tudo o que as pedagogas vão falar em cada situação - dizem que há também os pedagogos homens, mas eu nunca vi um. Vi, isso eu vi, homens que percebem que desta forma se projetarão com facilidade na política pública educacional então assumem, oportunamente, a essência do discurso pedagógico em cargos de confiança ou em funções de maior projeção. Nas escolas, propriamente, parece que tem alguns, ligados a umas ONGs, mas eu ainda não tive a chance de conviver com eles.

Pois bem, digo essas coisas. Na verdade, queria chegar no ponto seguinte, que é o que interessa por agora: Eu idolatro minha atual vice-diretora! Idolatro! Nem seria necessário, para iniciados, explicar que um vice-diretor na rede municipal pode assumir inteiramente o papel pedagógico na escola, a depender da postura do diretor. E na minha escola, é este o caso.

A mulher tem um metro e oitenta. É negra, muito bonita, sem exagero nenhum. Tem seios fartos e às vezes usa uns decotes muito bonitos. A voz, aquela típica de quem não nasceu para fazer outra coisa: suave e ligeiramente rouca quando fala de assuntos triviais, quando diz bom dia. Potente e grave quando se dirige a qualquer pessoa que esteja fazendo qualquer coisa errada - homens, mulheres, velhinhos e - sobretudo - jovens e crianças. Acima de tudo: muito elegante. No horóscopo chinês, ela é um galo. De formação e início de carreira no magistério: professora de educação física. Tem disciplina, incute disciplina, acredita na disciplina. Não perdoa nada. Aluno atrasou duas vezes, da terceira volta para casa. Professora atrasou, execração pública. Sem descer do salto, com elegância. Ar superior, três dedos acima da Humanidade. Sem gritos, sem desmoralizar. Só o suficiente para matar de vergonha. Eu atrasei uma vez, vinte minutos. Não atraso nunca mais.

Pois bem, a Gala. Contra-mão total do discurso pedagógico, e por isso tão rara. Em relação a ela, um episódio esta semana.
Foi de manhã. Os alunos da oitava se sentiram muito diminuídos com as broncas aparentemente exageradas e o excesso de rigor em relação ao uso do uniforme. Recebemos a auxiliar de período em sala de aula, ela disse que não pode - calça jeans curta, que vai só até o meio da canela, como uma menina estava vestindo. Que não podia ir para o passeio do dia seguinte sem a camiseta da escola - branca, só, não servia. Tinha que ser a da escola. Bom. Pronto. Foi a auxiliar dar meia volta, e os meninos começam a reclamar comigo (eu passo cada minuto tentando me livrar dessa pecha de professora democrática, fazendo um discurso militarista mesmo, mas - Com quem esses putos vêm reclamar cada vez?).
Disseram que era muito chato, que uma calça um pouco diferente não tinha nada de mais. Eu retruquei - Olha, eu concordo que sua calça não atrapalha, mas uniforme serve para padronizar. Se um aluno pode ser diferente porque tem bom-senso, o aluno que não tem bom-senso vai reivindicar seu direito a ser diferente, também. Então, tem pessoas que vêm para a escola com roupa de paquerar, que desconcentra para o estudo. Por isso, tem que padronizar.
Disseram que a escola é Cheia-de-querer-ser. Escola pensa que é de patricinha. Eu disse que respeito o ponto de vista (por que em relação a outras coisas, acho esta crítica fundamentada). Mas que já dei aula em escola em que as crianças iam do jeito que achavam melhor e - onde vocês acham que se estuda mais?
Disseram que a escola é boa, mas é chata. E eu ri.

Aí, disseram o melhor: Que nossa querida diretora - vou chamá-la de diretora, que ela é a diretora do meu coração - então, deveria dar o exemplo, não usando aqueles decotes!!!!
Então, eu pensei: "Sacanas, eles querem que a gente fique ridícula. Eles querem nos transformar a todas numas velhas corocas!" e me limitei a responder:
"Particularmente, na minha opinião, a Diretora é uma mulher muuuuuuuuuuuuuuito elegante!". E poderosa, isso eu só pensei.
Teve uma menina linda que falou assim: "E a diretora já teve que usar uniforme, quando foi aluna!"
Eu concordei e pensei: "Além disso, qual é o problema de usar uniforme quando se tem umas bundas e uns peitos lindos que nem os de vocês, bruxinhas?"

2 comentários:

  1. Mas vem cá... Essa vice-diretora tem namorado?

    hahaha, brincadeira!

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  2. Nunca tive coragem de perguntar. Acho melhor não saber hihihihihihi!!!

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