quarta-feira, 14 de maio de 2008

Os passeios pagos nas escolas públicas

Parece comum as escolas da rede pública promoverem passeios com os alunos, mas não aqueles passeios que possam auxiliar na aprendizagem de todos os alunos, e sim os que humilham uns (poucos que podem pagar) diante de uma minoria que consegue juntar moedas e pagar o passeio.
Desta vez foi um passeio que custava ao aluno quatorze reais. Se o pai tivesse dois filhos ia para vinte e oito e se três, quarenta e dois. Pois bem.
O passeio foi hoje. Ontem vieram me perguntar se eu poderia acompanhar os alunos ao tal passeio. Disse que não, que não gostaria de associar minha imagem a esse tipo de decisão não coletiva da escola. Silêncio. Logo na sequência teve uma reunião de pais, para divulgar notas e faltas do bimestre e fazer atendimento aos responsáveis, pois na minha escola tem mais "responsáveis" do que pais, como tia-avó, vizinha, tutor da igreja, e por aí vai... Os pais ouviram uma conversa que não teria aula no dia seguinte (hoje), e EU tive que informá-los que em virtude de um passeio promovido pela coordenação da escola, e que não teria a participação de todos os alunos por um "probleminha econômico", estaríamos com reduzido número de professores e que era para mandarem os alunos para a escola, pois eu estaria a postos.

QUE VERGONHA EU SENTI DA ESCOLA!!!! E QUE RAIVA...

Anos atrás, na mesma escola, levantei umas trocentas discussões entre as antas dos professores sobre este polêmico assunto. Expliquei que a escola não poderia promover a discriminação econômica entre os alunos, que estava contra os princípios tais e tais... quando fui interrrompida (sim, pois na repartição não existe argumento, existe quem "grita mais alto") por uma professorazinha que disse:

"- Ah! Mas a vida é assim mesmo, não adianta a gente passar a mão na cabeça deles. Veja meu caso: eu queria estar agora na DASLU comprando roupas e estou aqui, dando aulas!"

Então, respondi que uma coisa era a sociedade fazer isso e outra coisa era a escola. Mas foi uma conversa insólita. Então outra pata disse:

"- Mas tem as cortesias dos promotores dos passeios, que podemos dar aos alunos mais carentes!"

Expliquei a ela que no nosso caso teríamos que ter 20 cortesias para cada aluno pagante. Mas ela fingiu que não era com ela.

Hoje, dando aula (quero dizer, jogos, pois não os "castigaria" com aula, já que os demais estavam se divertindo) para os desprovidos, observo que justamente os melhores alunos em termos de aprendizagem estavam ali, junto com outros. E o curioso é que os professores que mais "passam a mão na cabeça das crianças" no mau sentido da palavra, que não se comprometem com a educação pública como uma função pública, são os primeiros a defenderem os malditos passeios.

E agora a história se repete. Preciso fazer alguma coisa. Não dá. Até agora só ouvi falar de uma escola que proibiu, através do conselho de escola, esta prática. Seu diretor é conhecido como uma pessoa bem autoritária.

4 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Isso é um problema... E tem em todas as escolas.
    A minha deixou de ter esses passeios este ano (ela fazia pra arrecadar $$ pra pagar algumas coisas, pois sempre faltava pra pequenos consertos, entre outros), pois o governo não permite mais que a escola saia com os alunos pra fazer esse tipo de passeio, sem fins educacionais. Achei bom, pois muitos alunos não iam, e também achava constrangedor, mas não expunha minha opinião sobre isso, infelizmente.
    O problema é que logo depois do impedimento a essas excursões, eles vieram com outra mudança: não pode sair com aluno da escola nem pra fazer aulas-passeio, em museus, zoológico, instituições diversas em horário de aula!! Apenas fora de horário de aula... E eles pagam a Hora Extra??? Até agora não obtivemos resposta, mesmo depois de mandarmos vários emeios pra SEESP. Absurdo. Vamos virar, à força, "amigos da escola", sabe aquele programa da Fundação Roberto Marinho que chama voluntários pras escolas??? Pois então...
    Impedem excursões que, de fato, já deveriam impedir a muito tempo, mas impedem também outra coisa essencial: a opção de sair da escola e lecionar em outros ambientes.

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  3. No Pezzotti também é proibido. Mas é mais legal que seja uma decisão do conselho, mesmo, que se as pessoas não entenderem e apoiarem perde o sentido. O risco de perder no conselho é o risco da democracia em geral, mas nessas coisas eu acho válido, tanto pra que as pessoas se apropriem da decisão, como - e principalmente - para marchar sobre as cabeças das patas da daslu...

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  4. É muuuuiiiito constrangedor!!!!
    Na minha escola, pra piorar, os picaretas agitavam os tais passeios, ficavam "incentivando" as crianças e, simplesmente, tiravam o corpo fora na hora de ir junto...

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