quinta-feira, 8 de maio de 2008

Mudando de assunto - minha 1ª postagem

Aprendendo a brincar

Fiz história... não, não... não nesse sentido... a despeito de todos sermos sujeitos da hitória...
Refiro-me ao curso de história que concluí em 2002. Assim que acabei já dei as caras à docência; precisava, de fato, saber se estava no lugar certo.
Já se passaram quase 6 anos desde então e muitas águas rolaram. Lecionei em três diferentes redes públicas de ensino - município de SP, estado do PR e estado de SP -; decidi fazer outra graduação - em Pedagogia, para refletir mais sobre a educação e para ter as "habilitações" (monopolizadas pela Pedagogia) necessárias para o trabalho em outras esferas educacionais aquém da docência -; tive um filho - experiência, entre muitas outras coisas, bastante educativa que me permitiu redimensionar minhas prioridades...
Após o nascimento da criança decidi pedir exoneração mais uma vez, já que gastaria mais de 50% do salário com creche e transporte e ficaria longe dele por longos períodos diários nesses seus primeiros momentos... decidi então dedicar-me à pequena pessoa e aos estudos. Fizemos um combinado aqui em casa que cada um ficaria um certo tempo sem trabalhar para cuidar da criança e da casa e estudar... o que não é muito fácil.
Cá estou. Num grupo de professores públicos muito bons... sem ter episódios do meu cotidiano para compartilhar... Tentarei participar relacionando o que já vivi com o que cada um está contando... e, gostaria, também, de compartilhar a minha trajetória de estudos.
Depois de ir fazendo as coisas muito na intuição - o que não quero deixar de lado - senti a necessidade de parar pra pensar um pouco e fundamentar o que faço e o que penso.... construir argumentos consistentes. Percebi que pra dar conta disso precisava construir uma disciplina intelectual... e é neste momento de construção em que me encontro... que muitas vezes não é bom, é apenas frutífero...

De presente, Clarice Lispector, em texto do livro A descoberta do mundo.

BRINCAR DE PENSAR

A arte de pensar sem riscos. Não fossem os caminhos de emoção a que leva o pensamento, pensar já teria sido catalogado como um dos modos de se divertir. Não se convidam amigos para o jogo por causa da cerimônia que se tem em pensar. O melhor
modo é convidar apenas para uma visita, e, como quem não quer nada, pensa-se junto, no disfarçado das palavras.
Isso, enquanto jogo leve. Pois para pensar fundo – que é o grau máximo do hobby – é preciso estar sozinho. Porque entregar-se a pensar é uma grande emoção, e só se tem coragem de pensar na frente de outrem quando a confiança é grande a ponto de não haver constrangimento em usar, se necessário, a palavra outrem. Além do mais exige-se muito de quem nos assiste pensar: que tenha um coração grande, amor, carinho, e a experiência de também se ter dado ao pensar. Exige-se tanto de quem ouve as palavras e os silêncios – como se exigiria para sentir. Não, não é verdade. Para sentir exige-se mais.
Bom, mas quanto a pensar como divertimento, a ausência de riscos o põe ao alcance de todos. Algum risco tem, é claro. Brinca-se e pode-se sair de coração pesado. Mas de um modo geral, uma vez tomados os cuidados intuitivos, não tem perigo.
Como hobby, apresenta a vantagem de ser por excelência transportável. Embora no seio do ar ainda seja melhor, segundo eu. Em certas horas da tarde, por exemplo, em que a casa cheia de luz mais parece esvaziada pela luz, enquanto a cidade inteira estremece trabalhando e só nós trabalhamos em casa mas ninguém sabe – nessas horas em que a dignidade se refaria se tivéssemos uma oficina de consertos ou uma sala de costuras – nessas horas: pensa-se. Assim: começa-se do ponto exato em que se estiver, mesmo que não seja de tarde; só de noite é que não aconselho.
Uma vez por exemplo – no tempo em que mandávamos roupa para lavar fora – eu estava fazendo o rol. Talvez por hábito de dar título ou por súbita vontade de ter caderno limpo como em escola, escrevi: rol de... E foi nesse instante que a vontade de não ser séria chegou. Este é o primeiro sinal do animus brincandi, em matéria de pensar – como – hobby. E escrevi esperta: rol de sentimentos. O que eu queria dizer com isto, tive que deixar para ver depois – outro sinal de se estar em caminho certo é o de não ficar aflita por não entender; a atitude deve ser: não se perde por esperar, não se perde por não entender.
Então comecei uma listinha se sentimentos dos quais não sei o nome. Se recebo um presente dado com carinho por pessoa de quem não gosto – como se chama o que sinto? A saudade que se tem de pessoa de quem a gente não gosta mais, essa mágoa e esse rancor – como se chama? Estar ocupada – e de repente parar por ter sido tomada por uma súbita desocupação desanuviadora e beata, como se uma luz de milagre tivesse entrado na sala: como se chama o que se sentiu?
Mas devo avisar. Às vezes começa-se a brincar de pensar, e eis que inesperadamente o brinquedo é que começa a brincar conosco. Não é bom. É apenas frutífero.

2 comentários:

  1. Nísia, escreva sobre a experiência pedagógica com o cãozinho, sobre a experiência pedagógica com o marido - quer mais perfil de educadora do que o que precisa uma mulher casada?

    Bem vinda!!!
    Beijos mil!

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  2. Primeiro eu virei professora, depois mãe. Ainda bem que eu sou mãe, pois não sei o que seria de mim - e principalmente dos alunos -se não tivesse essa experiência.

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