segunda-feira, 17 de novembro de 2008

DESISTÊNCIA

Estou num momento culminate - ou fulminante? - da minha curta carreira pedagógica: estou pensando em desistir da escola.

Não em desistir das crianças, dos jovens; meu trabalho com eles vai continuar, em outras vias. Talvez não de uma maneira sistemática, institucional, mas vai continuar. Estou (quase) desistindo mesmo da Escola. Dos adultos que a frequentam e a organizam.

O auge deste meu sentimento/pensamento foi na quinta-feira. Quem acompanha o meu blog já viu: no dia anterior, o DIRETOR quase foi espancado. Na quinta, bombas e confusão. Mas, além da falta de compromisso, irresponsabilidade das pessoas que permitiram que as coisas chegassem a este ponto - não canso de me repetir que nenhum problema começa grande, e acompanho isso - foi este fato: vários dos meus alunos, das sextas, sétimas, e oitavas séries envolvidos, de gaiato, indo de paga-pau de uns moleque metidos a bandidos, e me ignorando totalmente.

O bicho lá pegando, eu tentando apaziguar a situação. Um dos mocinhos sai pra fora, chama a "galera" pra voltar pra escola, pra ajudar a zoar o barraco, os meninos - e meninas, várias! - voltam. Eu olho, muitos dos meus alunos. E daqueles que eu tenho diálogo, tenho uma boa relação; alunos que eu botava fé. Chego junto: - "Fulano, vai pra casa, vai ser melhor. Ciclana, volta, colabora. Ajuda!" E eles? Me ignorando totalmente, como se eu fosse um bosta. Um nada. Um Zé-ninguém.

Talvez eu seja. Só não tinha me dado conta, até agora.

A rasteira foi tamanha que eu estou me recompondo. Aliado às ameaças que recebi quase explícitas de agressão física por conta de alguns alunos que, finalmente, só agora, depois de quase bater no diretor, xingar a Coordenadora, agredirem vários alunos, depredar patrimônio público, não assitirem aula há mais de seis meses, ameaçarem, tocarem o terror, agora, finalmente, foi conseguido uma transferência compulsória - quem disse que não pode? E o problema foi, talvez, resolvido. Não sei, os próximos dias dirão.

Fato é que eu não vou para a escola. Estou em licença médica. Eu me dei. Porque quem gosta de mim sou eu, e eu não mereço o desgaste que estou vivendo há algumas semanas, meses. Não mesmo.

Por isso que estou desistindo da Escola. Principalmente desta escola, que não ensina, não educa, não faz nada; só estraga. Por não ter parceiros, por não ter diálogo. Pelos adultos que lá estão presentes não se responsabilizarem. Cansei de brincar de escolinha. Cansei de fazer jogo sério quando todos não estão nem azul. Cansei.

Por enquanto é da escola, mas não sei. O fato de estar olhando concursos públicos por aí, talvez insinue que eu esteja desistindo da educação. Pela primeira vez estou visualizando que sim, isto é possível. Plausível e acredito que será tranquilo para mim.

8 comentários:

  1. Cara, em último caso, mude de escola. Há várias formas de fazer isso, e há muitas escolas onde ainda se pode fazer coisas acontecerem...

    Além do mais, a vida é grande. Você pode dar um tempo, depois voltar, ou ir trabalhando em outro emprego, juntando grana e pessoas, e montar uma escola, ONG, ou sei lá, que faça as coisas do seu jeito. Já pensei em uma ONG que tenha como objetivo recrutar voluntários e desenvolver sistemas, pra resolver os problemas escolares, que o Governo tem mais dificuldade pra alcançar. Problemas familiares, drogas, más influências...

    Sei lá, só idéias... A vida é curta, mas tem vários anos.

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  2. Sim, Igor, a opção mudar de escola é a primeira.

    Já pedi remoção da escola em que estou. Se não rolar, vou tentar o "artigo 22", que me dá a possibiliade de lecionar em outra escola. Se não der certo, talvez exonere.

    Fato é que o desgaste este ano está absurdo. E perder a fé até naqueles que a gente acreditava, achava que estava do lado para ajudar, é complicado.

    Mas vamos sobrevivendo. Afinal, "a vida é curta, mas tem vários anos" - adorei isso, rs.

    (R.C.)

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  4. E eu, que estou numa escola toda estruturada, e desisti do mesmo jeito... não desisti da educação, mas insisto que precisa haver alternativa melhor pra quem quer ser educador público do que ficar pulando de escola em escola até achar um lugar relativamente digno pra se trabalhar...
    Eu também estive a ponto de desistir de tudo quando estive numa escola com o perfil da sua. Mas prefiro encarar a coisa mais ou menos como um batismo de sangue - depois disso, você pode ganhar um distanciamento quase estóico em relação às loucuras que vão estar por toda parte. Não desisti, na época, porque a Jade me fez começar a estudar. Acho que isso pode ajudar a aproveitar uma experiência que faz questão de parecer não ter nada de aproveitável - apesar de que você já aproveita pra fazer literatura. Enfim, enfim... A decisão é sua, também não sei se escolhi o caminho certo. Tenho muito medo de, como tantos, me servir da educação púlica pra "fazer tese". E ponto.

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  5. Oi, Eulália.

    Também acho que deve haver alternativas melhores para quem quer ser um educador público, e que não basta existir apenas uma escola melhor, tem que haver uma melhoria geral.

    Eu gosto muito do que faço. Apesar da desvalorização do nosso trabalho - em vários sentidos - apesar das dificuldades; gosto muito. Acontece que eu estou num momento "saco cheio" da educação, até para se falar, pensar, discutir sobre ela - talvez seja este o motivo para o meu travamento para escrever o texto.

    Sei que este "saco cheio" não é definitivo. Preciso mesmo é de férias, preciso mesmo é mudar de ambiente escolar, além de fazer uma terapia (rs), e tenho medo também de ficar usando a escola para experiências literárias. Não quero isto. Eu quero ser professor, e completo.

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  7. Olha, Rodrigo, é lógico que só uma (1) escola melhor não é solução para o mundo. Mas todo o mundo que eu conheço que resolveu criar ou pensar a pedagogia adotou a solução do mundo da mercadoria - foi fazer uma escola diferente pra vender. Eu creio que o simples fato de fazer algo que seja para o povo, público, e não completamente sazonal na vida das pessoas como são as ONGs, poderia servir, em primeiro lugar, como exemplo. E se não servisse pra isso, serviria pra alguns educadores atuarem ao mesmo tempo seriamente e publicamente, pra não adoecerem do trabalho, por assim dizer. Pode parecer pouco. Eu não acho, acho as vidas das pessoas bastante coisa, inclusive a minha. O argumento de que uma só não basta, pra mim, é o que a burguesia usa pra cismar de usar como laboratório de todas as inovações, ainda não testadas, a rede pública inteira. Mas no tocante a estar de saco cheio, entendo perfeitamente.

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  8. Concordo, Eulália. Por isso que estamos nos reunindo, e conversando, e pensando, e acreditando. Apesar das dificuldades e de tudo o que nos diz o contrário. (r.c.)

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