segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Nadando contra a corrente

Semana passada teve um encontro regional da ANPUH, e dentro dele houve o Fórum de Graduação... tema deste? Nova reforma curricular da SEESP e o ensino de história, além disso, também falaram sobre ensino da temática indígena e da África...

A mesa estava composta de pessoas interessantes, mas uma em especial eu sempre fui fã: Helenice Ciampi.

Bem, falaram muito mal da proposta, da qual também não gosto. Muitos ficavam só falando sobre a tal AUTONOMIA do professor, mas não havia, de fato, a discussão de como trabalhar com a tal autonomia, a prática... Era crítica em cima de crítica... "Pra variar"...

Por fim, abriram para as falas, e a maioria começou a fazer discurso inflamado "apeoespiano"... Também quis falar, não pra fazer discurso, mas para perguntar. Fiz perguntas sobre o que seria a tal automia, na prática, pra eles da mesa e se concordam com um currículo mínimo, pois minha vivência, enquanto professora da rede (e aluna do estado do pré até o 3o. colegial), me mostrou o quanto era necessário, até porque essa liberdade total dos professores, pra mim, só gerava bagunça. Apenas uma, a Helenice, disse claramente que era a favor de currículo mínimo... Não me senti tão contemplada por todos, mas, enfim, fiquei sentada ouvindo... Até que foi uma moça que falava muito bem, contra a proposta e tal, mas como vários ali, com o discurso de colocar todos os professores no céu, como se todos fossem sérios... e disse, direcionada a mim: "professora, não temos que ter currículo mínimo não, cada professor tem que fazer o seu"... Uma mulher atrás de mim falou: "eu também acho"... E eu, olhando pra moça com o microfone: "discordo!". Ela foi sentar e todos alvoroçados bateram muitas palmas pra ela (ah, aparentemente, a maioria era de professores das redes).

Enfim, a maioria, tanto de professores quanto de acadêmicos, ali, acham que é autoritário, reacionário, ter um currículo mínimo... Mas em uma conversa com a Professora Eulália, quando estava contando a ela o acontecido nesse fórum, ela falou: "Como se não fosse autoritário o professor, ele só, decidir o que lecionar a seus alunos... Isso é muito pior, é a ditadura do indivíduo!".

Afinal, quem disse que um currículo mínimo, bem discutido anteriormente com a população em geral, não poderia ser melhor? Até porque as discussões nos anos 80 e 90 (CENP, PCN's) já proporcionaram a alguns profissionais da época uma certa habilidade com relação às discussões sobre currículo. E, claro, como era de se esperar, o governo atual foi autoritário sim e passou por cima dessas discussões, ao invés de, com apoio de profissionais e do público em geral, melhorá-las, implementá-las.

Porém, a impressão que dá (não apenas impressão, mas em muitos casos, constatação) é que a maioria dos profissionais prefere a ditadura do indivíduo... Nessa maré, nadamos contra a corrente, como já sabemos há muito tempo, mas é tão difícil não desanimar, né?

3 comentários:

  1. A maioria prefere a ditadura do indivíduo porque assim fica mais fácil não se responsabilizar por absolutamente nada, "Não aprendeu comigo porque veio assim da outra escola" ou "o professor do ano passado era tradicional e ela não se adaptou à minha proposta"...
    Se tivessem um currículo mínimo teriam que se empenhar, correr atrás do prejuízo, fazer valer o salário que recebe. Mas é mais fácil não ter responsabilidade nenhuma pela escola pública.

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  2. O que sinto é que quando surge algo que possa incomodar um pouquinho, se é que me entende, eles vão todos contra. Fico lembrando da última greve. Um dos professores mais engajados na mesma, a uns anos atrás, faltou um ano inteiro, só compareceu a uma aula, pediu perdão, oficialmente, para o Governador, e ficou tudo bem. Ta lá o cara dando aula... Greve ele faz, afinal, deixar as turmas sem aulas um ano não é injustiça, mas os professores terem que fazer a tal da prova, é... Por isso ele luta, é um cara justo. (Estou sendo irônico)

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  3. Ou seja, ser a favor do currículo mínimo é ser a favor do currículo real. O currículo individual é imaginário, na prática inexistente. É um não-currículo. E o que esses professores não percebem é que esta sua falta de bom senso cria palco pra propostas de total padronização do próprio ato de ministrar uma aula, como reação à desordem geral. Aí vêm as estatísticas mostrando que as escolas apostiladas funcionam melhor que as outras - é lógico, alguma coisa sempre funciona melhor que coisa alguma. Mas defender um curriculo mínimo é também defender a possibilidade de ser criativo e usar a sensibilidade pedagógica no tocante aos métodos para implementá-lo, pois esses sim têm que se definir conforme cada situação. Assuntinho delicado...

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