sábado, 13 de setembro de 2008

Controle de natalidade e educação


É comum nos discursos eleitorais os candidatos às Prefeituras se referirem à educação com a promessa de aumento no número de vagas, principalmente das creches, pois as mães precisam trabalhar e o Brasil não pode parar.
Como professora pública há mais de seis anos, na periferia da maior cidade do Brasil, constato um fato curioso e preocupante: uma absurda "vontade" de procriação do ser humano e o total descaso com as crianças. Referir-me-ei aqui por ser humano, já que gerar novas vidas, na maior parte das vezes, pressupõe os dois sexos. E esta constatação vem atrelada a outras, como a procriação em função dos relacionamento afetivos, ou seja, engravidar para demarcar território.
Como é de conhecimento de todos, minha filha não foi gerada por meu útero e é filha biológica do meu cônjuge, e isto provoca reações das mais estranhas por parte das pessoas, como acharem que tenho que "ter um filho do meu marido", pois fica parecendo que sou uma trouxa, que cuida do "filho dos outros". Sem contar que é comum ouvirmos cotidianamente que "fulano agora vai segurar o sicrano, pois terá um filho dele". Enfim, enredo de novela da Globo.
Para deixar claro que não estou me referindo especificamente às classes menos abastadas, isto se manifesta em todos os estratos sócio econômicos da população.
E o que acontece depois que os relacionamentos foram definidos por novas gestações? A constatação de que, na grande maioria das vezes, é a mulher que vai se "virar", pois percebeu que o filho será só dela e que o amor de sua vida foi fazer filhinhos com outras. Mas a pessoa não aprendeu ainda, ela vai achar que encontrou novamente um grande amor e engravida novamente, pois ele já tem um filho com outra (um vínculo, para um homem, muito forte por sinal, que o marcou pro resto da vida) e é preciso marcar território mais uma vez, mostrar que a coisa é séria, pra valer.
Você deve achar agora que sou a maior reacionária da face da Terra, não é? Pois digo que não! Sou plenamente favorável às pessoas terem filhos, mas desde que seja por prazer de ter, que não vinculem isso aos relacionamentos-afetivos-demarcação-de-território. Que goste de criança, que curta cuidar, ensinar, dar bronca, aconselhar, errar e aprender. E também não acho que a criança precise de uma família nuclear tradicional.
As crianças das periferias que nascem neste modelo gerado pelas novelas ficam numa situação de abandono não declarado, geralmente tem casa, comida, roupa bem lavada, mas ninguém as assume, ninguém se responsabiliza por elas, elas não se sentem criaturas desejadas por seus pais. Já as classes médias e altas conseguem disfarçar melhor esta situação de abandono com os especialistas contratados para resolverem os problemas, que não são resolvidos por não serem da alçada deles. Mas o que há em comum entre todas as crianças é o fato de serem geradas numa situação que posterga, deixa suspenso, o que vai acontecer com elas futuramente em função das relações estabelecidas entre os pais. Se der certo será uma criança feliz, caso contrário, estará ferrada.
As crianças não devem ter nada a ver com as merdas que seus pais fazem.

Presidente da República, sei que é um tema tabu, mas precisamos fazer um controle de natalidade no país, a começar pelos meios de comunicações, passando pelos postos de saúde, escolas. De que adianta aumentar número de vagas em escolas se além dos muros da escola ninguém se responsabiliza por elas?

Botou filho no mundo, se vire!

3 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Concordo completamente!
    Lá na minha escola, me deparo com 3 tipos de pais: a esmagadora minoria, que acompanha, cobra, educa seu filho; os que vão e tomam um tempão da reunião de pais dizendo que vão tomar atitudes pra que seu filho seja educado... blablabla, falam só pra fazer um tipo e não passar vergonha, mas no outro dia a gente vê que nada foi feito; e aqueles pais que nem aparecem na escola... esses dois últimos são a grande maioria...

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  3. Apoiada. Tem que rediscutir com esse povo que modelo de famíla queremos, e porquê. Não ser moralista não significa criar tabus ao contrário, respeitar o fim da família tradicional nuclear não significa perder o senso crítico em relação ao que está ruim nos novos modelos. Até porque, como se diz, quem está pagando por isso, "não pediu pra vir ao mundo"! (rsrsrs)

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