quinta-feira, 24 de julho de 2008

Vida de professora ou dia de cão

Tenho um cargo público, de professora, na secretaria municipal de educação de SP. Cumpro uma jornada de trabalho (JEIF) que contempla 25 aulas de 45 minutos cada com alunos. No final de 2007 foi anunciada uma reestruturação para a EJA a partir de 2008. Os alunos que cursavam o equivalente à sétima série semestral no último semestre de 2007 teriam o direito de terminarem o ensino fundamental (quarto termo) no final do primeiro semestre de 2008. Com isso, os professores que perdessem tais aulas (no meu caso 4) no meio do ano cumpririam outras funções na escola até o final do ano letivo. Acontece que ninguém gravou nem pediu que alguém assinasse o combinado. No final de junho é publicado uma portaria regulamentando como ficaria a vida do professor que "perdeu" as aulas do quarto termo. Quem não escolhesse aulas em outra escola era obrigado a declinar de jornada, ou seja, a opção de jornada que escolhemos no final do ano anterior não foi respeitada. Detalhe: tem aulas na própria escola que eu poderia "tirar" de um professor adjunto (que virou titular em abril por decreto, uma conquista sindical fenomenal!!!!) para recompor a jornada, mas foi proibido pelo decreto. Tem professor em outra jornada (JBD) que não tem aula atribuída e que passou o primeiro semestre fazendo tricô na sala dos professores e que não é obrigado a escolher aulas picadas pelas escolas da cidade de SP, mas que recebe integralmente seu salariozinho.
Como sou pobre e casei por amor (a conhecida "mal casada" do Maluf), não tive como aceitar redução de salário no meio do ano e fui para uma atribuição de aulas na DRE.
Pois lá fui. Cheguei as 9 horas da manhã e saí as 14 horas. Fui obrigada a escolher uma sala de aula numa escola que nem sabia onde ficava. Eram 25 aulas de uma professora em licença médica desde fevereiro que foram desmembradas entre 5 (!!!) professores de escolas diferentes.
Achei o endereço, pois tinha que levar pessoalmente o papel até lá (sendo que isso poderia ser feito on line), e descobri o busão que me levaria até lá. Depois de uma hora e meia chego num lugar completamente inóspito, muuuuuuito boca, com um barulho de turbina de avião decolando a cada um minuto e meio na cabeça, toco a campainha da escola, um funcionário com pinta de retardado vem abrir a porta dizendo coisas impossíveis de se compreender, chego até a diretoria, enquanto aguardava ser atendida para entregar o tal papel ouvi: "Mas tem testemunha???". Bem, a diretora veio, falou que os horários da série eram terça, quarta e quinta. Eu a informei que eram no horário que eu tenho aulas na minha escola "sede", ela disse "eu não vou mudar o horário outra vez!!!!". Isso porque eram 5 professores de 5 escolas diferentes, com horários diferentes que estavam chegando com a ordem de serem encaixados a qualquer custo. Dá para perceber a boa vontade das pessoas... Mas até aí entendo, veio de cima para baixo, tipo "se vira".
Como o lugar é muuuuito mal atendido por ônibus, fui perguntar, no antro da sala dos professores, onde poderia pegar um ônibus para qualquer lugar, eu queria sair dali de qualquer jeito. Uma professora que estava de saída me ofereceu carona até a Paulista. Na saída da escola vejo um carro da polícia chegando. Era para fazer o atendimento a uma professora que ligou para a polícia resolver um problema que a direção se nega: ela tinha apanhado de um aluno. No caminho da carona a professora foi relatando os problemas da escola, e falou da omissão da direção nos casos de indisciplina que culminam sempre em violência física contra as professoras.

Estou perplexa.

5 comentários:

  1. Nossa, pelo amor de Deus! ... Omissão é o que mais tem, mas o cúmulo é quando se trata de violência!...
    E aí? Vc ficou com as aulas mesmo? A diretora vai ajeitar o horário, ou vc desistiu depois de tudo que viu? Aliás, pode desistir?

    Beijos

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  2. Se eu desistir das aulas declino de jornada e o salário é reduzido 30%. Quanto ao horário, é problema da escola, não vou me meter. Cada um na sua função pública, cumprindo suas atribuições, chega de acúmulo ilícito de cargo!!!

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  3. Vejam só a resposta do sindicato:

    "Temos tentado negociar com o Secretário de Educação para os casos, em especial da EJA.
    Infelizmente o mesmo tem se mostrado intransigente no sentido de aceitar a proposta.
    Continuaremos, mesmo assim, na defesa da jornada de opção, uma vez que o professor é obrigado a ficar as 25 h/a na Unidade, independente da jornada."

    Que maravilha...

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  4. Será que você não consegue ir lá dar aula uma vez e faltar o resto, justificando com as abonadas que você tem direito?

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  5. Cada vez que deixasse de ir lá seria uma falta/dia, saca?

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