terça-feira, 3 de junho de 2008

É SÓ TOMAR O REMEDINHO...

Estou cansado. Esgotado. Deprimido.

Infelizmente, vejo que não tem mais jeito. Resolvo ir ao médico.

Digo que está difícil trabalhar na escola. Está difícil acordar todos os dias para ir para a escola. Só para ter idéia, aos domingos, a partir das 17hs, no meio do jogo do domingão é batata: a angústia se instala no peito, a lembrança da segunda-feira fica pulando em cima da cabeça. Merda, não quero ir trabalhar.

E não é preguiça.

Ao invés de dormir até mais tarde, tenho insônias. Acordo mais cedo. Às 04 horas da manhã já estou brigando com a cama, tentando ficar mais um pouquinho. Mas não consigo.

Quando chego na escola, a angústia só aumenta. A sujeira do chão, as marcas do café de dias anteriores sobre a mesa da sala dos professores causam náuseas. Nojo. Separo meus livros, diários, separo meu material de trabalho. Vou pegar o giz e... não tem giz. Resolvo então ir ao banheiro, lavar o rosto, refrescar a cuca. Vou enxugar as mãos, o rosto... não tem papel.

Com as mãos e o rosto molhado, já chateado e sem giz, vou para a sala de aula. Os alunos não tem culpa. Aliás, são os únicos que me dão inspiração, força pra continuar. Chego na sala, entro, bom dia. Vou colocar as minhas coisas sobre a mesa, desisto. A mesa também está suja.

Sete e vinte e cinco da manhã, ainda há alunos no pátio. Não há ninguém controlando a entrada e saída dos alunos. Há quinze minutos estou tentando iniciar a minha aula mas, o barulho de alunos circulando pelo corredor, ouvindo música, gritando, o abre-e-fecha da porta da minha sala não permite. Tenho algumas opções: ir ao corredor e tentar botar ordem na casa – e já me estressar logo cedo numa função que não cabe a mim – ou ignorar e tentar dar a minha aula. Apesar de todo o caos. Nenhuma das opções me satisfaz.

A cada sinal de troca de aula, nem parece que são os professores que devem ir para outras salas. Os alunos saem juntos. E não há ninguém para dizer a eles para ficar em sala, não há ninguém para impedi-los. A cada troca de aula, dez, quinze minutos se perdem até os alunos, todos, resolverem entrar. Ou ficarem no pátio. Se quiser, eles ficam: no pátio, fumando no banheiro, beijando e fazendo azaração nas salas abandonadas. Parece que ninguém liga. A Vice-diretora não tem voz ativa. Os alunos não ligam pra ela. Ela não manda em nada. E a Diretora?

São onze e quinze e a mesma ainda não chegou. Seu trabalho deveria iniciar as 08hs da manhã.

Vou contando toda esta história e dizendo ao psiquiatra que estou frustrado. Ansioso. Com os nervos a flor da pele. A situação me deixa tão irritado que, infelizmente, percebo que já estou descontando nos alunos. Nos meus alunos. Justo neles, que eu não tenho problema. Porque o problema são os alunos fora da sala. Fazendo o que querem. São os alunos que a escola não vê, não enxerga, não controla. Não diz que eles não podem ficar ali, tocando o puteiro. Sem limites. E crianças e adolescentes, sem limites, é perigoso. Qualquer hora alguém vai se machucar. Alguns já estão se machucando. Mas não há ninguém para ver isso. Não há ninguém para ver que a linha que separa o estético do ético é muito tênue. E num ambiente sujo, imundo, os alunos e professores não tem disposição para aprender e ensinar. Não há ninguém para ver que a escola está uma bagunça, desorganizada, alunos agindo como a direção: fazendo o que querem. E que os alunos não estão aprendendo. Os garotos que eu prometi alfabetizar na sétima série não estão sendo alfabetizados. O projeto curricular não está sendo aplicado. Eu estou desesperado, por não conseguir trabalhar direito.

Depois de ouvir muito, o médico abre a sua pasta, retira um caderninho preto, faz algumas anotações e me diz:

- Então, na verdade, o seu problema de estress e depressão está ligado ao seu ambiente de trabalho. Mais especificamente, a sua Diretora, que não trabalha. Se resolver o problema que é trocar a Direção, colocar alguém mais presente, mais competente para trabalhar, seu problema está resolvido?

Eu fico até eufórico, e digo:

- Exatamente, doutor!

- Olha, filho – ele me diz -, então é melhor você tomar este remedinho...

4 comentários:

  1. Qual remedinho, menino, que eu também estou precisando muito...

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  2. Na semana que vem, dia 12, acontecerá mais uma Caminhada pela Paz no Heliópolis.
    Minha participação será:

    "Deixe-me em PAZ!"

    Era para ser uma profissão como outra qualquer. Mas não consigo exercê-la!!!

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  3. D. Branca, faz um pot com isso aí que você escreveu, vai!

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  4. Colega Eulália,
    Participarei da caminhada e depois postarei algo com o calor do acontecimento.

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