quarta-feira, 4 de junho de 2008

Caminhos...


Achei interessante esta publicação na data da morte da professora. A despeito de todo o populismo que está sempre presente na imprensa local, penso que aqui o que está sendo dito é, simplesmente, o óbvio. Eu e a minha prima já iniciamos algumas reflexões no campo da lingüística para entender a necessidade da imagem na alfabetização de massas. Conforme as teorias dos estágios de desenvolvimento na psicologia aplicada, parece também que a memorização não deve ser desprezada como método didático para crianças em fase de alfabetização - pois a prioridade de estabelecer relações e conexões estaria em uma etapa seguinte do desenvolvimento das pessoas em geral. No entanto, não gosto de pensar que a academia e o poder que dela emana só se curvam à sua própria estrutura argumentativa. Me parece de um grau altíssimo de violência simplesmente erradicar um método socialmente reconhecido por gerações inteiras, e ainda por cima desqualificá-lo como "pouco evoluído", "atrasado" ou, mais diretamente, "pouco científico". O positivismo, me parece, foi criticado no que tinha de contribuição, e continua sendo reproduzido pela academia e pelo poder político no que precisava ser superado - a arrogância do cientificismo. Mas, é sempre bom lembrar, as cobaias da "confraria pedagógica" no Brasil atual são mesmo os pobres.




"Em 1997 Branca Alves de Lima fechou sua editora, surgida com o sucesso da sua cartilha. Na época, em uma entrevista, a professora disse: “Eles (o governo, o MEC e o Guia do Livro Didático, o Conselho Nacional de Educação, as secretarias de Educação etc.) estão projetando, quase decretando, que os alunos não usem mais cartilhas. Mas só ao final de várias décadas é que vai se chegar à conclusão se o construtivismo dá ou não resultados”.Em 1995, a cartilha foi retirada do catálogo do MEC (portanto, não é avaliada), mas mesmo assim cerca de 10 mil exemplares são vendidos por ano. A editora Edipro, atual responsável pela produção da Caminho Suave, conta histórias como a do empresário paulista que comprou 50 cartilhas para presentear os amigos no Natal. A cartilha ainda é vendida para algumas escolas particulares e antigos professores que trabalham com alfabetização de jovens e adultos. Uma distribuidora também envia os livros para o Japão, que são usados por filhos de emigrantes.Para muitos educadores, a vida de Branca Alves de Lima é a síntese de um dos principais males (se não o principal) da Educação brasileira: um enorme desrespeito dos gestores e das políticas públicas educacionais em relação aos professores e professoras, aos estudantes e suas famílias.E a prova disso foi a dificuldade encontrada para levantar dados sobre a educadora. Nenhuma biografia foi encontrada, mostrando que, por mais relevante que tenha sido a participação de alguém, o novo chega não só para substituir o que é considerado velho, mas para alijá-lo da memória, como se nunca tivesse existido."

2 comentários:

  1. Para alguma coisa a tal da JEIF presta. Já ouvi diversas professoras das antigas, aquelas que alfabetizavam todos os seus alunos na primeira série, dizer que a língua portuguesa se aprende, por natureza, através das sílabas. Posteriormente soube que Piaget havia declarado, sem nenhum problema, a mesma coisa.

    Prof. Branca

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  2. É, o Cortella disse no livro dele "A escola e o conhecimento" que o "Cícero", menino do sertão do Seridó, não aprendeu a ler porque ele "não via a uva", como a "Eva", da cartilha da Branca Alves via, mas tinha na cartilha um lindo desenho de um cachinho de uvas, eu vi!!

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