quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Fala da Professora

Faz muito tempo que queria transcrever aqui esta fala de Marilena Chauí, por dois motivos. O primeiro é o tema, ética, do qual sempre se lança mão no cotidiano escolar, quase sempre com muita carência de uma elaboração que escape ao senso comum - no mau sentido, com seus preconceitos e simplificações que só criam uma emenda pior que o soneto.
Digo isso porque penso mesmo que melhor seria nada dizer a falar o que quase sempre se fala sobre ética nas escolas. Melhor seria não tentar nenhuma aproximação calculada, contentando-nos com os conteúdos de valor implícitos na nossa conduta, em relação aos absurdos "projetos" que se desenvolvem com sentido pretensamente ético - transmissão de filmes americanos em que alguém sofre e depois se salva, ou é salvo por outro, o hábito da reza católica coletiva, não pouco difundido, e por aí afora...). Pois bem. Então, sugiro este texto de fala transcrita para possíveis horários coletivos, quando o tema for nosso conhecido papel de "trabalhar valores". É um começo de conversa que, creio, permite que a coisa saia um pouco da ladainha sentimental de sempre.
O outro motivo é que eu acho bonito, mesmo. Mais bonito é a mulher falando, lógico. Mas minhas capacidades tecnológicas não chegam a tanto...
"Nós somos seres passionais. Nós temos paixões. E as paixões, como o amor, o ódio, a cólera, a vingança, a tristeza, a alegria, a generosidade, elas atuam sobre o nosso caráter. Sobre a nossa índole. E produzem resultados terríveis. Nos colocam desorientados, na vertigem, desvairados, dilacerados, sem saber o que fazer.
A imagem que os antigos usavam pra mostrar o que eram as paixões agindo sobre o nosso caráter, sobre o nosso temperamento, era a de um barquinho solto no mar durante a tempestade. E o barquinho sobe com as ondas, vai pro fundo da água, é arrastado pelos ventos pra direita, pra esquerda, fica sem destino. Fica à deriva.
E é porque as paixões fazem isso conosco que é preciso a educação do nosso temperamento, do nosso caráter, e que é a educação da nossa vontade. A nossa vontade recebendo uma formação racional nos ajuda a escolher entre o bem e o mal, entre o vício e a virtude.
A ética, portanto, é essa educação da vontade pela razão para a vida bela, justa e feliz, à qual nós estamos destinados por natureza."

Nenhum comentário:

Postar um comentário