sábado, 27 de setembro de 2008

SÓ EU VEJO O QUE ACONTECE OU AS COISAS SÓ ACONTECEM COMIGO?

há tempos que eu não chego por aqui. bati o meu recorde sem postagens desta vez. mas é que o negócio chamado 'minha vida' está meio doido. demais. acho que não tive uma semana assim... bom, não lembro em nenhum outro momento da minha vida em que uma semana foi tão cheia de fatos, bons e ruins, marcantes e diversificados para comentar. para ajudar, muitas provas, trabalhos, fechamento do 3º Bimestre, ahhhhhh. pressão total! então, vou tentar fazer um breve resumo da semana, quase que dia-a-dia.

SÁBADO, DIA 20: em pleno sábado, estava na escola. segundo sábado consecutivo, reposição de aulas - da semana da greve. trabalhar no sábado é horrível porque parece que não há interrupção na semana, principalmente para mim que sou professor, é atividade para preparar, aulas, coisas para corrigir quase todos os dias, fora do horário da escola e, trabalhar no sábado. enfim, quase enlouqueci. mas o fato marcante do sábado aconteceu no pós-escola. estou na avenida cangaíba, zona leste, em frente ao comércio dos meus pais - loja de 1,99 - quando do outro lado da rua eu acompanho um senhor: começa a cambalear, tenta agarrar-se a um poste, não consegue, cai e começa a estribuchar no chão, se agitar, como tendo um ataque. algumas pessoas que estão atrás dele, outras vindo pela frente vêem ele caindo no chão, se agitando, desviam o caminho e prosseguem. ele tinha caído em frente a loja de roupas, onde fica exposto alguns manequins (bonecos). um cara que vende côco do lado pula por cima dele, entra na loja, sai, pula por cima dele de novo e volta a vender côco. o cara se estribuchando. sabe o que o cara do côco fez? foi tirar um barato com as vendedoras da loja: -"olha, tem um manequim de vocês caído no chão..."

depois de captar, demorar até para entender o que estava acontecendo, consegui ter a reação de ir lá ajudar o cara. chamamos o resgate que demorou mais de vinte e cinco minutos (!). o senhor estava bem confunso depois que conseguimos fazê-lo sentar. não lembrava direito o nome, onde morava, para onde ia. aí o zé-povinho começou a juntar, fazer muvuca. "ah, a gente pensou que ele caiu de bêbado." e se fosse, não é digno de nossa ajuda? a solução é deixar lá, se debatendo, escorrendo, até a água suja levar (teve gente que sugeriu isto)?

SEGUNDA, DIA 22: tive que retirar um aluno da minha sala (7ªC), pois estava muito rebelde, agressivo, além de estar dando tapas, socos, em outros alunos, rasgou na minha frente e jogou no lixo duas atividades que havia acabado de entregar. fui com o aluno até a direção para registrar o ocorrido, solicitar a convocação dos responsáveis. quando retorno para a sala, a porta está meia-aberta. quando a abro, um cesto de lixo cai na minha cabeça(!). o balde não virou, o que foi pior, pois o fundo - duro - do balde bateu bem na minha testa. o sangue subiu, a vista escureceu, minha vontade foi de xingar, bater, quebrar pelo menos o balde em mil pedacinhos. consegui me segurar, os alunos, parados, assustados, esperando a minha reação. fui calmamente a minha mesa, juntei as minhas coisas, disse "boa sorte para vocês", peguei as minhas coisas e saí da sala. veio uma locomotiva atrás de mim, pedindo desculpas, que o balde não era para mim (era para o aluno que eu havia enviado à direção), que ele tinha feito isso com outro em outro dia, o aluno que colocoou o balde se apresentou mas, estava muito triste, chateado. disse que não interessa que não era para mim, aconteceu comigo e foi muita falta de consideração, respeito. poderia ter me machucado. não estava com ânimo, moral, para voltar para a sala.

o triste de toda esta história é que a 7ªC é uma sala que dá muito trabalho, desde o ano passado. sabemos o motivo: muitos alunos com dificuldades, alunos até não-alfabetizados. mas, não damos conta de educarmos os alunos. o sistema não colabora (sala sempre cheia, alunos não faltam), professores não se ajudam, os alunos não se ajudam e... vai ficando cada vez mais difícil.

a coisa boa da segundona aconteceu a noite. a convite do Michel, Raquel e todo o pessoal do ELO DA CORRENTE, fui até o CEU PÊRA-MARMELO, no Jaraguá, participar de uma atividade literária na Biblioteca Paulo Freire, da escola. Mais de cinquenta alunos da escola e de outras, além de pessoas da comunidade, presentes para conversarmos sobre Educação, Cultura, Literatura, além de apresentações, num Sarau. foi uma atividade muito gostosa, rápida demais, livros foram sorteados - mais de 10 livros - e o pessoal foi muito bacana. valeu Elo da Corrente.

TERÇA, DIA 23: na hora do intervalo, fui procurado por quatro alunas. queriam conversar comigo, em particular. consegui uma sala da escola e fomos. e ouvi coisas simplesmente revoltante: uma aluna pedindo ajuda pois estava sofrendo violência em casa. nada de "tapinhas". espacamento, eu diria que tortura. física, psicológica. não quero contar maiores detalhes pois não sei quem acessa o blog, e também para não expor a aluna/caso. mas terça-feira foi um dia muito difícil para mim, com esta BOMBA-RELÓGIO jogada sobre o meu colo.

QUARTA, DIA 24: digamos que eu tive uma pausa para respirar (se é que pode dizer que ficar mais de quatro horas sentado, corrigindo provas, preparando provas é pausa para respirar). a coisa marcante foi ter acabado o meu papel - inclusive o rascunho - e a tinta (a segunda!) da minha impressora, quando estava imprimindo as provas. sim, pois eu faço e imprimo as provas em casa. nove salas, mais de trezentos alunos. o dinheiro? vem do meu bolso. porque se for esperar tudo do Estado, é bom deitar, sentado eu canso.

QUINTA, DIA 25: estou indo para a minha sala de aula, a 7ªA para aplicar a prova, na primeira aula. dois alunos das 7ªs séries estão se atracando-enforcando no corredor. ninguém separa, ninguém intervém. ninguém viu? separo os alunos, mando para as suas salas. coloco todo o corredor para dentro. entro na minha sala, estou apagando a lousa, ouço e vejo um arrastão passando pelo corredor. alunos da 7ªC e D se batendo, dando socos, tapas, chutes. vou para o corredor atrás - porque parece que as coisas ou só acontecem quando estou lá ou ninguém vê, só eu. esta segunda é a mais provável. identifico nove alunos, das duas salas. falo com cada um deles, não pode ficar assim. a sala está se estranhando há mais de uma semana: juntam alguns alunos no corredor, tipo "gangues" e o pau come. e ninguém vê nada, só eu? detalhe, aqui eu já estou um bagaço, antes de começar a dar a minha aula.

e pra ajudar, durante o intervalo da quinta-feira, teve guerra de comida no intervalo: arroz, feijão, prato, caneca. tudo criou asas, alunos se machucaram, a escola ficou imunda, e eu pensando: primeiro, o que ainda faço aqui? segundo, será que estou ficando louco, só eu vejo, me incomodo com estas coisas? terceiro, o que fazer? sozinho eu não guento. mas não vejo parceiros suficientes ou pessoas interessadas em resolver ao lado. pelo menos não o suficiente, dentro de minha escola. aí é difícil.

principalmente porque esta semana tive que cancelar o encontro com as meninas do meu coletivo-grupo-brancaleone de estudo. meninas, não desistam de mim. eu preciso de vocês, e eu não desisti de vocês. mas é complicado, na escola não tenho muita ajuda, e quem colabora comigo eu não consigo me encontrar...

a coisa boa da quinta-feira foi a QUINTAS AS OITO, evento organizado pelo grupo CLARIÔ DE TEATRO, em seu espaço em Taboão da Serra. toda última quinta-feira do mês, alguém é convidado. e quem chegou por lá foi o pessoal das Edições Toró, inclusive eu, que assistimos a um vídeo, debatemos sobre cultura, educação, literatura - minha praia predileta - lemos, recitamos, nos abraçamos e ficamos felizes. eu preciso disso para recarregar as energias, senão, não aguento.

SEXTA, DIA 26: resumindo a história, fico sabendo de algumas alunas da 7ª série (ÊITA, SÉTIMA SÉRIE), que estão cabulando aula para se reunir na casa alguns meninos para beber, fumar e... trepar. as alunas que me contaram - o bom que pelo menos os alunos confiam em mim - me confidenciaram porque tentam conversar mais as meninas não ouvem. problema grave aí: meninas de treze anos, "desandadas", se nada fazemos, sabemos o que acontece: ou viciadas, ou grávidas. pior, tem alguns jovens, maior de idade envolvidos. mais um bucha na minha mão, e a pergunta que não quer calar: as coisas só acontecem comigo ou só eu vejo o que acontece?

ainda bem que a noite teve lançamento do livro organizado pelo parceiro Alessandro Buzo, "Pelas periferias do Brasil", vol. II, onde eu pude descontrair, encontrar amigos, abraçar, ouvir um som e "acreditar que sonhar sempre é preciso, é o que mantém os irmãos vivos", porque, acho que você entendeu. sózim eu não aguento.

no mais, a média diária de dormida esta semana foi baixa, menos de cinco horas por noite, estou aqui, acabando de compartilhar o texto, para algum doido ou maluca que tenha tempo de ler algo tão grande, identifique-se com as minhas dores e compartilhe um pouco a minha angústia.

"ouçam as histórias de meus males
e curem a sua dor, com a minha dor
pois grandes mágoas, podem curar mágoas"
Luís de Camões

e fechamos por aqui.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Experiência educativa

A mudança para o interior facilitou muito coisas como ir ao teatro, por exemplo. É claro que a programação é bem mais restrita; mas é ótimo poder sair de casa 20 minutos antes, de bicicleta, chegar lá e ainda fazer um lanchinho antes da peça começar...
Lá fomos nós, uma mãe engajada na educação do filho e o próprio com 1 ano e sete meses, ver Dois números - uma peça de teatro de bonecos...
Apesar de um pouco trabalhoso, foi bem divertido. A tal peça não era propriamente infantil, embora não tivesse nada de inadequado para crianças... como o próprio nome diz, eram 2 números, o primeiro com um cordão que era manipulado pelos trê atores compondo formas diversas... bem poético, mas as criancinhas começaram a dispersar um pouco - e os adultos mais ainda. Teve uma hora que o menino do meu lado, com mais ou menos 10 anos, falou algo que expressa bem o sentimento da maioria dos presentes:
_ Não disseram que era de boneco???
Bem, o número foi curto e aí veio o segundo com o tão esperado boneco. Era daquele tipo em que os atores (usando roupa preta e tal...) vão dando movimento cada um segurando numa parte do corpo. Foi um número muito bonito, forte, profundo... basicamente, tratava-se do boneco saindo de suas caixas para explorar e conhecer o mundo e seus manipuladores - super existencial... o que não era a expectativa da maioria ali...
Lá pelas tantas - eu com o pequeno no colo, que sentava, levantava, olhava para todas as direções, fazia carinho na pessoa da cadeira ao lado entre outras coisas - um ser humínimo adulto começou a manipular o seu objeto de tecomunicação portátil bem na nossa frente,; não fazia barulho, mas as luzinhas ficaram todas acesas naquela escuridão e o meu intrépido na hora gritou bem alto:
_ Alôôô!!!
A tal pessoa, só gaurdou rapidamente o objeto...

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Coletivo...quê?

Bom, sabemos que pretendemos consolidar um coletivo na contra-mão do discurso pedagógico vigente, tanto do (neo)liberal, como daquele que se pretende socialista, mas terminou perdendo as duas principais virtudes necessárias a um socialista conseqüente - o senso de realidade, que protege o pensamento contra "esquerdismos", e o senso crítico, que garante aos sujeitos a capacidade de fazer um pouco mais do que reproduzir o que ouviram de catedráticos, especialistas ou patrões.
Nisso concordamos, mas temos dificuldade em encontrar um nome para o grupo, uma vez que não conseguimos pensar em nenuma personalidade a ser homenageada que não acabe nos identificando a grupos sociais ou mais propriamente ideários educacionais dos quais divergimos em pontos cruciais.
Então, por exemplo, Paulo Freire não servia, pois respeitamos o mestre mas não a verenação que certos "estudiosos" incentivam a cultivar por ele (e temos a convicção de que ele também não compartilharia de tal atitude intelectualmente submissa, acrítica e descontextualizada historicamente, que resulta muito mais num congelamento do que num avivamento de suas idéias).
Makarenko também não servia, pois apesar de todo o êxito pedagógico da prática refletida do grande educador soviético, não queremos ser confundidos com os que crêem que se pode pensar um sistema educacional e uma escola socialistas, ou pior, institucionalmente socialistas, num Estado não-socialista.
O nome da educadora Branca Alves de Lima foi levantado por representar, para nós, um resgate do conhecimento técnico do processo pedagógico, o qual é necessariamente fruto de "investigação empírica", ou seja, só pode ser criado na prática por profissionais vocacionados e comprometidos. Em nossa opinião a adoção da cartilha "O Caminho Suave", muito ao contrário de ser uma camisa-de-força didática, era um reconhecimento de que a roda não precisa ser reinventada a duras penas por cada educador que inicia sua trajetória, uma facilitação do trabalho do ensino e da aprendizagem que liberava energia criativa tanto ao educador quanto ao aluno para ir além, no caso de quem quer ir além, e que garantia aos menos criativos (ah, é, eles existem!) alguma tranqüilidade (qual o problema?). Então, pensamos, a homenagem a uma professora comum, daqui do "chão", e a um reconhecimento que, bem ou mal, existia, e deixou de existir, de que o "como ensinar" só pode partir de nós, e não de grandes elocubrações academicistas que nos chovem aos borbotões sob a forma das "formações continuadas".
Então, abri uma pasta na caixa de e-mails com o nome "Coletivo Branca Alves de Lima". Mas ao lado, ali as pastas pequenininhas do lado esquerdo da caixa de entrada, o nome da pasta aparece assim: "Coletivo Branc...". E toda vez que eu leio, eu penso...
COLETIVO BRANCALEONE????"

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Nadando contra a corrente

Semana passada teve um encontro regional da ANPUH, e dentro dele houve o Fórum de Graduação... tema deste? Nova reforma curricular da SEESP e o ensino de história, além disso, também falaram sobre ensino da temática indígena e da África...

A mesa estava composta de pessoas interessantes, mas uma em especial eu sempre fui fã: Helenice Ciampi.

Bem, falaram muito mal da proposta, da qual também não gosto. Muitos ficavam só falando sobre a tal AUTONOMIA do professor, mas não havia, de fato, a discussão de como trabalhar com a tal autonomia, a prática... Era crítica em cima de crítica... "Pra variar"...

Por fim, abriram para as falas, e a maioria começou a fazer discurso inflamado "apeoespiano"... Também quis falar, não pra fazer discurso, mas para perguntar. Fiz perguntas sobre o que seria a tal automia, na prática, pra eles da mesa e se concordam com um currículo mínimo, pois minha vivência, enquanto professora da rede (e aluna do estado do pré até o 3o. colegial), me mostrou o quanto era necessário, até porque essa liberdade total dos professores, pra mim, só gerava bagunça. Apenas uma, a Helenice, disse claramente que era a favor de currículo mínimo... Não me senti tão contemplada por todos, mas, enfim, fiquei sentada ouvindo... Até que foi uma moça que falava muito bem, contra a proposta e tal, mas como vários ali, com o discurso de colocar todos os professores no céu, como se todos fossem sérios... e disse, direcionada a mim: "professora, não temos que ter currículo mínimo não, cada professor tem que fazer o seu"... Uma mulher atrás de mim falou: "eu também acho"... E eu, olhando pra moça com o microfone: "discordo!". Ela foi sentar e todos alvoroçados bateram muitas palmas pra ela (ah, aparentemente, a maioria era de professores das redes).

Enfim, a maioria, tanto de professores quanto de acadêmicos, ali, acham que é autoritário, reacionário, ter um currículo mínimo... Mas em uma conversa com a Professora Eulália, quando estava contando a ela o acontecido nesse fórum, ela falou: "Como se não fosse autoritário o professor, ele só, decidir o que lecionar a seus alunos... Isso é muito pior, é a ditadura do indivíduo!".

Afinal, quem disse que um currículo mínimo, bem discutido anteriormente com a população em geral, não poderia ser melhor? Até porque as discussões nos anos 80 e 90 (CENP, PCN's) já proporcionaram a alguns profissionais da época uma certa habilidade com relação às discussões sobre currículo. E, claro, como era de se esperar, o governo atual foi autoritário sim e passou por cima dessas discussões, ao invés de, com apoio de profissionais e do público em geral, melhorá-las, implementá-las.

Porém, a impressão que dá (não apenas impressão, mas em muitos casos, constatação) é que a maioria dos profissionais prefere a ditadura do indivíduo... Nessa maré, nadamos contra a corrente, como já sabemos há muito tempo, mas é tão difícil não desanimar, né?

sábado, 13 de setembro de 2008

Controle de natalidade e educação


É comum nos discursos eleitorais os candidatos às Prefeituras se referirem à educação com a promessa de aumento no número de vagas, principalmente das creches, pois as mães precisam trabalhar e o Brasil não pode parar.
Como professora pública há mais de seis anos, na periferia da maior cidade do Brasil, constato um fato curioso e preocupante: uma absurda "vontade" de procriação do ser humano e o total descaso com as crianças. Referir-me-ei aqui por ser humano, já que gerar novas vidas, na maior parte das vezes, pressupõe os dois sexos. E esta constatação vem atrelada a outras, como a procriação em função dos relacionamento afetivos, ou seja, engravidar para demarcar território.
Como é de conhecimento de todos, minha filha não foi gerada por meu útero e é filha biológica do meu cônjuge, e isto provoca reações das mais estranhas por parte das pessoas, como acharem que tenho que "ter um filho do meu marido", pois fica parecendo que sou uma trouxa, que cuida do "filho dos outros". Sem contar que é comum ouvirmos cotidianamente que "fulano agora vai segurar o sicrano, pois terá um filho dele". Enfim, enredo de novela da Globo.
Para deixar claro que não estou me referindo especificamente às classes menos abastadas, isto se manifesta em todos os estratos sócio econômicos da população.
E o que acontece depois que os relacionamentos foram definidos por novas gestações? A constatação de que, na grande maioria das vezes, é a mulher que vai se "virar", pois percebeu que o filho será só dela e que o amor de sua vida foi fazer filhinhos com outras. Mas a pessoa não aprendeu ainda, ela vai achar que encontrou novamente um grande amor e engravida novamente, pois ele já tem um filho com outra (um vínculo, para um homem, muito forte por sinal, que o marcou pro resto da vida) e é preciso marcar território mais uma vez, mostrar que a coisa é séria, pra valer.
Você deve achar agora que sou a maior reacionária da face da Terra, não é? Pois digo que não! Sou plenamente favorável às pessoas terem filhos, mas desde que seja por prazer de ter, que não vinculem isso aos relacionamentos-afetivos-demarcação-de-território. Que goste de criança, que curta cuidar, ensinar, dar bronca, aconselhar, errar e aprender. E também não acho que a criança precise de uma família nuclear tradicional.
As crianças das periferias que nascem neste modelo gerado pelas novelas ficam numa situação de abandono não declarado, geralmente tem casa, comida, roupa bem lavada, mas ninguém as assume, ninguém se responsabiliza por elas, elas não se sentem criaturas desejadas por seus pais. Já as classes médias e altas conseguem disfarçar melhor esta situação de abandono com os especialistas contratados para resolverem os problemas, que não são resolvidos por não serem da alçada deles. Mas o que há em comum entre todas as crianças é o fato de serem geradas numa situação que posterga, deixa suspenso, o que vai acontecer com elas futuramente em função das relações estabelecidas entre os pais. Se der certo será uma criança feliz, caso contrário, estará ferrada.
As crianças não devem ter nada a ver com as merdas que seus pais fazem.

Presidente da República, sei que é um tema tabu, mas precisamos fazer um controle de natalidade no país, a começar pelos meios de comunicações, passando pelos postos de saúde, escolas. De que adianta aumentar número de vagas em escolas se além dos muros da escola ninguém se responsabiliza por elas?

Botou filho no mundo, se vire!

domingo, 7 de setembro de 2008

Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come!

Não vejo mais meus companheiros, então vou contar pra eles aqui em público, não tem problema, é até bom.
Estive em uma das discussões organizadas na campanha da Marta, as tais plenárias de educação. Escrevi no papel das identificações que era membro do "Coletivo de Educação Popular - Branca Alves de Lima", na falta de uma definição melhor. Ouvi bastante. A Luiza Erundina falou. A ex-secretária da Educação (provável futura secretária, também) falou. Alguns representantes sindicais, estudantis, alguns candidatos falaram.
Eu, apesar de cultivar grande admiração e respeito por pessoas presentes ali, como a ex-prefeita Luiza, e de ter chegado mesmo à comoção durante sua fala em diversos momentos, discordei de diversos pontos. E pedi a palavra, já que estava ali. O coordenador da mesa já havia avisado que só haveria tempo para a fala de sete pessoas, e abriu as inscrições. Eu fui a terceira a me inscrever. O coordenador leu a lista das sete pessoas que falariam - meu nome não estava nela. Levantei no lugar, olhei para a mesa, ameacei dar um grito, fui inserida na lista. Agora a lista tinha oito inscritos ( ???). Bom, as outras falas eram de pessoas importantes, representativas, vá lá...
Finalmente, peguei o microfone. Aí, fui falando. Comecei dizendo que era eleitora, militante e filiada ao Partido dos Trabalhadores desde os dezesseis - o que é verdade, lógico. Me apresentei como professora de geografia da rede municipal, isso também é verdade. Aliás tudo o que eu falei era verdade, pra encurtar, que assim já está parecendo que eu ia contar alguma mentira!
Então, falei que queria aproveitar aquele momento para dizer que, enquanto professora, não me sinto representada pelos meus sindicatos - isso foi divertido, porque a primeira fala tinha sido de um diretor do Sinpeem! Ele tinha dito que estava muito ansioso pela reabertura da mesa de negociação, que o Kassab fechou, etc. etc. etc. Aí, eu falei que participei ativamente da greve de 2006, que levamos as discussões político-pedagógicas para a população do Heliópolis, que havia questões da mais alta relevância para os caminhos da educação municipal e que tais questões, na ocasião, foram completamente colocadas em segundo plano pelo sindicato. Além disso, há um veto à palavra por parte do sindicato, não se pode ser ouvido nos momentos cruciais. Então, eu disse, se temos a preocupação em levar a cabo uma gestão democrática e popular, é preciso antes de tudo tomar o cuidado de saber quem são os nossos interlocutores. Aí, eu continuei muito séria, e falei que tinha ido até ali com uma preocupação principal. Disse que não sabia direito a que se referia a nossa secretária quando falou que o atual prefeito rasgou e remendou o estatuto do magistério, que eu não entendo nada de questões jurídicas, mas que na minha prática cotidiana observava pela primeira vez um aumento do controle sobre a presença docente na escola. Disse que acho algum controle necessário. Que não falava somente como professora, mas como ex-aluna que se prejudicou muito com as faltas de professores na rede estadual, e como mãe. Disse que se queremos ser democráticos, o primeiro interesse a ser contemplado é o do aluno, e que temos, sim, como educadores, que ver o que as pessoas pensam a nosso respeito. Disse que os sindicatos vão continuar dizendo que o problema não são as faltas, mas a contratação de novos professores. Perguntei onde estariam tantos professores para ser contratados. Enfim, disse que apesar de todo o horror que a atual gestão representa, e eu sei o horror que ela representa, temos que tomar o cuidado de não criticar ações que podem representar melhoras, de não fazer um contraponto pelo contraponto, sem reflexão. Agradeci a atenção e fui para o meu lugar. Ao meu lado, estava sentada uma professora da rede estadual, de Educação Física. Ela disse que a fala foi ótima, que eu consegui ser muito clara, e que na opinião dela eu havia dito as coisas mais importantes. Mas que, enquanto eu falava, a dirigente da Apeoesp que estava sentada em frente a ela sussurou com o candidato a vereador que estava a seu lado: "É a enviada do Kassab!"
É mole?

Eu também vou fazer projeto!

Uma amiga minha acha que devemos procurar o historiador Eric Hobsbawm e sugerir que comece a escrever, seguindo a linhagem de A Era das Revoluções, A Era dos Extremos, A Era do Capital, A Era dos Impérios, um volume de história contemporânea com o título "A Era dos Projetos". Se isso é verdade em geral, no caso do fabuloso universo pedagógico chega a ser a única certeza possível... Então, parafraseando Raul Seixas, já que agora pra fazer sucesso, pra vender disco de protesto, TODO O MUNDO TEM QUE FAZER PROJETO, eu vou tirar meu pé da estrada e vou entrar também nessa jogada, quero ver agora quem é que vai güentar...


Comecei já esta semana mesmo. Queria fazer um grupo vocal, uma coisa muito modesta, mais uma chance de ter um respiro de humanidade no caos que significa a relação de trinta e cinco a quarenta educandos por educador, uma chancezinha de olhar no olho de cada um, fazendo algo que eles concordam que pode ser bom, mas ainda assim exige disciplina, dedicação, subordinação a uma autoridade legítima, essas coisas que a nosso ver podem fazer uma escola ser uma escola e não estão, nem de longe, presentes nas condições gerais do nosso cotidiano. Mas não tinha jeito - se quisesse começar, antes tinha que escrever um projeto - assim me informaram todos os meus superiores hierárquicos. Tá bom, quem sabe começando eu não aprendo, finalmente, o que querem essas pessoas todas do mundo dizer quando anunciam estar desenvolvendo seus respectivos "projetos", as expressões cheias de positividade, transmitindo a crença e a firme convicção de que a maior legitimidade existencial a que pode aspirar um ser humano está em ser o feliz elaborador, executor, ou mesmo avaliador de algum "projeto". Então, não tem problema, vamos também fazer projetos, os projetos substituem todos os paradigmas perdidos. Fiz o projeto, que afortunadamente foi aprovado e está em execução. E a partir de agora, só quero falar na linguagem universal dos projetos, não vou mais perder o bonde da história.

P.S.: Quanto ao coral, está muito divertido, até agora. Só meninas, um ou outro menino quer vir mas não tem coragem! No último encontro, o Gustavo da 5a. A ficou pendurado no muro, espiando a gente escondido...

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Delírios

Estou aqui, afastada temporariamente de minhas atribuições docentes na prefeitura, agoniada com as questões acadêmicas, e pensando sobre como será a volta às aulas e meu futuro como professora.
Eu queria imensamente que a profissão que tenho por vocação fosse respeitada publicamente e que eu não precisasse sacrificar minha sanidade mental e a vida inteira para exercê-la dignamente. Parece ser inconciliável o dia-a-dia desgastante e extenuante em sala de aula com a leveza da vida, como relaxar, pensar, criar, sentir, perceber. Tenho a impressão de que ficamos amargurados com o tempo, chatos, sei lá. A meu ver, neste momento, parece que isto é inviável, impossível. Não, não estou desistindo, mas sim tentando vislumbrar outro cenário e projetar idéias novas.
Assim não dá. Vamos mudar.